Afinal, por que tanto menino entra para o tráfico? E como alguns conseguem sair? Essas são algumas da questões enfrentadas no estudo “Meninos do Rio: jovens, violência armada e polícia nas favelas cariocas” (do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania. Para respondê-las, a pesquisadora Silvia Ramos e equipe colheram 104 depoimentos de estudantes, traficantes, ex-traficantes, milicianos, mães, líderes comunitários, assistentes sociais. O resultado joga luz sobre um fenômeno bastante complexo – o ingresso na vida do crime -, que à luz das análises socioeconômicas costuma ser simplificado e resumido à questão financeira.
A questão financeira existe, evidente. Mas o estudo indica que isso nem sempre é determinante. Para começar, diversas pesquisas – esta, inclusive – apontam certa “crise do tráfico”. A ponto de algumas “bocas” fecharem, por falta de clientela. Razões para tanto podem ser procuradas na expansão do consumo do ecstasy, traficado no asfalto, e na própria violência de criminosos e policiais, que teriam afastado o consumidor. Leia alguns trechos de depoimentos a propósito da baixa nos negócios da droga:
“Tem favela tão pobre que nem a milícia quer!” “Tá tão ruim que os fogueteiros vivem pedindo comida. Vão lá em casa, mexem nas panelas: ‘pô, tia, não tem um rango, não? Tô cheio de fome’”
“Eu trabalhando no sinal ganho mais dinheiro do que vagabundo que trabalha no morro”
Se a questão financeira não explica sozinha o ingresso no crime, então o quê? “É claro que em muitos casos adolescentes vão para o tráfico (ou as milícias) em busca de dinheiro, alternativa profissional, para fugir de famílias violentas, para escapar de pais ou mães alcoolizados e degradados, ou por outros motivos socioeconômicos ‘clássicos’”, escreve a autora. “Mas é importante perceber que em muitos casos as trajetórias de vida não correspondem a essas razões mais óbvias ou frequentes.”
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