A Humanidade evoluiu
de forma extraordinária no aspecto tecnológico mas, desde que o mundo é mundo que os conflitos existem, lamentavelmente continua
atrasada no que diz respeito à moralidade. Por isso, apesar dos milênios
transcorridos, continuamos conflitando por qualquer coisa, como consequência da
predominância do orgulho e do egoísmo entre os homens. E hoje, a par do
progresso em todos os campos de atividades, são tantos os conflitos nos mais
diversos recantos do globo que surgiu um novo termo, nova conflitualidade, para
estabelecer a diferença com os antigos.
As guerras contemporâneas, depois de 1945, tornaram-se cada vez menores entre Estados e passaram a contemplar outros atores, infra estaduais e supre estaduais, capazes de executar operações militares, verificando-se uma extrema plasticidade dos seus atuantes, assemelhando-se muitas vezes a uma luta pela sobrevivência, sem regras, sem objetivos claramente definidos, deixando assim o Estado de possuir o monopólio do uso da violência. Dentre as características dos novos conflitos encontra-se o recurso das táticas de guerra suja, ocasionando o aumento da morte de civis.
Para Herfried Munkler passou a haver uma desmilitarização da guerra, no sentido de que os objetivos civis não se distinguem dos militares e a violência extrema é exercida contra não combatentes e sobre todos os domínios da vida social, em que se usam profusamente crianças-soldado, sendo também normal a generalização da violação do direito aplicável aos conflitos armados, bem como do regime de proteção dos direitos humanos. Outra característica nos conflitos internos do pós-guerra fria é a dificuldade em distinguir combatentes e não combatentes, por ser tênue a linha que os separa, tornando difícil a identificação de quem é a vítima ou o agressor.
Como os atores deste tipo de conflito são outros, o seu caráter também teve que evoluir: São guerras irregulares, estrutural ou temporariamente assimétricas, sem frentes, sem campanhas, sem bases, sem uniformes, sem respeito pelos limites territoriais, de objetivos fluidos, de combate próximo, estando os combatentes misturados com a população que utilizam como escudo e, se necessário, como moeda de troca. Têm na inovação, na surpresa e na imprevisibilidade, os seus "pontos fortes" onde os fins justificam os meios, empregando por vezes o terror, onde o estatuto de neutralidade e a distinção civil/militar desaparecem.
Dentre os vários autores que abordam as novas guerras está Sinisa Malesevic, que faz uma análise crítica sociológica do seu paradigma com um foco sobre os efeitos e as causas das guerras recentes. O autor argumenta que, apesar do desenvolvimento ao elaborar modelos, a sociologia contemporânea da guerra repousa sobre bases precárias e, portanto, não convence. Assevera que ao invés de assistir a uma dramática mudança nas causas e nos objetivos dos violentos conflitos contemporâneos, é importante perceber uma transformação significativa no contexto sócio histórico em que essas guerras são travadas. Afirma que uma variedade de influentes acadêmicos de um leque de disciplinas tão diversas como estudos da segurança (Snow 1996; Duffield 2001), da economia política (Collier 2000; Jung 2003), relações internacionais (Gray 1997; Keen 1998) e da teoria política (Munkler 2004) abraçaram o paradigma das novas guerras. Todavia, esses acadêmicos argumentam que todos os conflitos violentos desde o final do século XX são totalmente diferentes dos seus antecessores.
O argumento é que estas novas guerras diferem em termos de âmbito (civis e não de conflitos interestatais), métodos, modelos de financiamento (externo e não interno), e são caracterizados por uma baixa intensidade associada a altos níveis de brutalidade e com deliberados ataques contra civis. Além disso, ao contrário das "velhas guerras", este novo conflito violento tem premissas em diferentes táticas (terror e guerrilha, em vez de ações em batalhas convencionais), diferentes estratégias militares (controle populacional em vez de captar novos territórios), utilizam diferentes combatentes (exércitos privados, bandos apenados e chefes militares, em vez de soldados profissionais ou conscritos), e são altamente descentralizados. As novas guerras são também vistas como caóticas, uma vez que esbata distinções tradicionais (legais versus ilegal, privados e públicos, civis versus militares, interno versus externo, e local versus global). Embora a investigação proveniente do paradigma das novas guerras tenha se revelado altamente benéfica para realçar algumas características distintivas de guerras civis durante a década de 1990, foram seriamente contestadas muitas das suas reivindicações.
Uma das constatações feitas por Milasevic é que apesar da Guerra ser um assunto muito negligenciado pela investigação sociológica, surgiram mais teorias, conceitos e análises empíricas do que problematizar a natureza dos conflitos contemporâneos.
Para Zygmunt Bauman's (apud Milasevic, 2008) as "novas" guerras estão situadas no contexto de transição entre a estável, sólida e regulamentada modernidade, para uma não regulamentada e principalmente caótica "modernidade líquida." Em sua opinião, a modernidade foi construída sobre as ideias do Iluminismo de uma totalidade ordenada, favorecendo a eliminação de aleatoriedade e ambivalência, e privilegiando o compacto territorial da organização administrativa. Em contraste a isto, a modernidade liquida é extraterritorial, com a velocidade e a mobilidade do capital global dissolvendo fronteiras estatais como potência na mudança de estado-nação para corporações globais. Essa alteração estrutural gera duas formas distintas, mas profundamente interligadas de novas guerras: guerras globalizantes onde as lutas acontecem à distância através de armas tecnologicamente avançadas, e da globalização, induzida por guerras conduzidas no vazio deixado pelo colapso das antigas estruturas estatais. Para Bauman o objetivo central para globalizar guerras se torna "a abolição da soberania do Estado ou a neutralização do seu potencial de resistência" para acomodar a integração e coordenação do fluxo acelerado dos mercados globais, enquanto que para a globalização, na guerra induzida o que se pretende é reativamente "reafirmar a perda de significado espaço.
As guerras contemporâneas, depois de 1945, tornaram-se cada vez menores entre Estados e passaram a contemplar outros atores, infra estaduais e supre estaduais, capazes de executar operações militares, verificando-se uma extrema plasticidade dos seus atuantes, assemelhando-se muitas vezes a uma luta pela sobrevivência, sem regras, sem objetivos claramente definidos, deixando assim o Estado de possuir o monopólio do uso da violência. Dentre as características dos novos conflitos encontra-se o recurso das táticas de guerra suja, ocasionando o aumento da morte de civis.
Para Herfried Munkler passou a haver uma desmilitarização da guerra, no sentido de que os objetivos civis não se distinguem dos militares e a violência extrema é exercida contra não combatentes e sobre todos os domínios da vida social, em que se usam profusamente crianças-soldado, sendo também normal a generalização da violação do direito aplicável aos conflitos armados, bem como do regime de proteção dos direitos humanos. Outra característica nos conflitos internos do pós-guerra fria é a dificuldade em distinguir combatentes e não combatentes, por ser tênue a linha que os separa, tornando difícil a identificação de quem é a vítima ou o agressor.
Como os atores deste tipo de conflito são outros, o seu caráter também teve que evoluir: São guerras irregulares, estrutural ou temporariamente assimétricas, sem frentes, sem campanhas, sem bases, sem uniformes, sem respeito pelos limites territoriais, de objetivos fluidos, de combate próximo, estando os combatentes misturados com a população que utilizam como escudo e, se necessário, como moeda de troca. Têm na inovação, na surpresa e na imprevisibilidade, os seus "pontos fortes" onde os fins justificam os meios, empregando por vezes o terror, onde o estatuto de neutralidade e a distinção civil/militar desaparecem.
Dentre os vários autores que abordam as novas guerras está Sinisa Malesevic, que faz uma análise crítica sociológica do seu paradigma com um foco sobre os efeitos e as causas das guerras recentes. O autor argumenta que, apesar do desenvolvimento ao elaborar modelos, a sociologia contemporânea da guerra repousa sobre bases precárias e, portanto, não convence. Assevera que ao invés de assistir a uma dramática mudança nas causas e nos objetivos dos violentos conflitos contemporâneos, é importante perceber uma transformação significativa no contexto sócio histórico em que essas guerras são travadas. Afirma que uma variedade de influentes acadêmicos de um leque de disciplinas tão diversas como estudos da segurança (Snow 1996; Duffield 2001), da economia política (Collier 2000; Jung 2003), relações internacionais (Gray 1997; Keen 1998) e da teoria política (Munkler 2004) abraçaram o paradigma das novas guerras. Todavia, esses acadêmicos argumentam que todos os conflitos violentos desde o final do século XX são totalmente diferentes dos seus antecessores.
O argumento é que estas novas guerras diferem em termos de âmbito (civis e não de conflitos interestatais), métodos, modelos de financiamento (externo e não interno), e são caracterizados por uma baixa intensidade associada a altos níveis de brutalidade e com deliberados ataques contra civis. Além disso, ao contrário das "velhas guerras", este novo conflito violento tem premissas em diferentes táticas (terror e guerrilha, em vez de ações em batalhas convencionais), diferentes estratégias militares (controle populacional em vez de captar novos territórios), utilizam diferentes combatentes (exércitos privados, bandos apenados e chefes militares, em vez de soldados profissionais ou conscritos), e são altamente descentralizados. As novas guerras são também vistas como caóticas, uma vez que esbata distinções tradicionais (legais versus ilegal, privados e públicos, civis versus militares, interno versus externo, e local versus global). Embora a investigação proveniente do paradigma das novas guerras tenha se revelado altamente benéfica para realçar algumas características distintivas de guerras civis durante a década de 1990, foram seriamente contestadas muitas das suas reivindicações.
Uma das constatações feitas por Milasevic é que apesar da Guerra ser um assunto muito negligenciado pela investigação sociológica, surgiram mais teorias, conceitos e análises empíricas do que problematizar a natureza dos conflitos contemporâneos.
Para Zygmunt Bauman's (apud Milasevic, 2008) as "novas" guerras estão situadas no contexto de transição entre a estável, sólida e regulamentada modernidade, para uma não regulamentada e principalmente caótica "modernidade líquida." Em sua opinião, a modernidade foi construída sobre as ideias do Iluminismo de uma totalidade ordenada, favorecendo a eliminação de aleatoriedade e ambivalência, e privilegiando o compacto territorial da organização administrativa. Em contraste a isto, a modernidade liquida é extraterritorial, com a velocidade e a mobilidade do capital global dissolvendo fronteiras estatais como potência na mudança de estado-nação para corporações globais. Essa alteração estrutural gera duas formas distintas, mas profundamente interligadas de novas guerras: guerras globalizantes onde as lutas acontecem à distância através de armas tecnologicamente avançadas, e da globalização, induzida por guerras conduzidas no vazio deixado pelo colapso das antigas estruturas estatais. Para Bauman o objetivo central para globalizar guerras se torna "a abolição da soberania do Estado ou a neutralização do seu potencial de resistência" para acomodar a integração e coordenação do fluxo acelerado dos mercados globais, enquanto que para a globalização, na guerra induzida o que se pretende é reativamente "reafirmar a perda de significado espaço.
As novas guerras
se notabilizam por uma violência sem igual, onde a barbárie é sua marca. Estas
novíssimas guerras ocorrem majoritariamente em Estados colapsados. Os seus objetivos
passam pelo controle do território e de recursos estratégicos, onde grupos em
constante luta disputam com o Estado o monopólio do uso da força. Observa-se que as guerras tem sido palco de investigação, onde
tem se buscado identificar as causas das "novas guerras". Nesse
sentido, várias são as formulações estudadas onde os pensadores da atualidade
afirmam que uma das causas é a globalização, outros que uma das causas é o
nacionalismo exacerbado e ainda existem autores que chegam a afirmar que as
"novas guerras" não diferem em nada das antigas. Particularmente,
acreditamos que as causas da guerra passam por todos os autores na medida em que
nenhum está com a verdade absoluta e cada um consegue captar um fragmento.
Acredito também, de forma otimista, que enquanto tiver pessoas que compreendam
que a vida é o bem maior do planeta e existirem governantes conscientes de que
com suas atitudes podem construir um mundo melhor e mais humano, onde não
impere as desigualdades, a pobreza, a ganância e haja democracia, poderemos
viver sem guerras, com a paz predominando em plenitude.
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