A era moderna, em decorrência da
ascensão irredutível dos movimentos democráticos, despolitizou as relações de
poder e a própria política. O problema é que, historicamente, foi a partir de
relações políticas que se construiu a civilização, enfatizando a separação
entre governantes e governados. O movimento democrático confunde estes dois
elementos separados historicamente.
O governo sempre foi superior ao povo,
dando-lhes as direções a seguir. Se o governo se parece e corresponde aos
anseios do povo, ele perde a sua capacidade de liderança e de guia do processo
civilizatório. Mais precisamente, o governo não deve e não pode refletir a
vontade do povo, sob pena de se tornar uma instância inferior e submetida a
este. Esta idéia de Nietzsche é conflitiva com todos os teóricos democráticos,
principalmente Rousseau e Marx. O governo que é governado pelos governados
deixa de criar condições para o surgimento dos grandes homens, prejudicando a
cultura pois, como vimos, a cultura da massa é medíocre e sufoca o aparecimento
dos grandes homens.
Deste modo, a inversão entre Estado e
povo é anti-histórica porque a política sempre foi um instrumento da cultura.
Mais ainda: o auto-governo do povo acarretará a destruição do Estado, pois este
torna-se algo supérfluo. A democracia, então, seria a forma histórica de
decadência do Estado, constituindo-se como uma praga que se alastra e
destrói os muros da cultura. O que destrói o Estado, então, é a
dissolução da hierarquia e da desigualdade, liquidando a possibilidade de
construção de uma nova cultura.
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