Friedrich Nietzsche, ao realizar uma reflexão acerca da democracia
e de seus elementos essenciais, toma uma posição claramente contrária a ela, ao
constatar que em todas as ideologias democráticas há algo que detesta: a
supervalorização da igualdade. Em
O Estado entre os Gregos, Nietzsche repudia
esta valorização da igualdade retomando os gregos que, a seu ver, eram
políticos por natureza. Parte-se do pressuposto de que, na era moderna, não são
os poetas e os grandes homens que produzem as representações do mundo e da
vida, mas sim os escravos rudes e grosseiros, malfadados à sua eterna condição.
Ou seja, a doutrina da igualdade é uma doutrina que vem de baixo, é algo do
povo inferior, e não dos aristocratas no sentido aristotélico e nobre do termo.
Segundo Nietzsche, todas as ideologias democráticas (inclusive
socialistas, liberais, etc) têm um ponto em comum: a sua base é fundada no
cristianismo, na medida em que, sendo humanistas, pregam a igualdade dos
homens. Enquanto o cristianismo ressalta que todos são iguais perante Deus, os
modernos somente substituem Deus pelo Estado. Permanece, então, o sentimento de
igualdade que se originou no cristianismo e se irradiou por todas as doutrinas
democráticas.
Como vimos, para Nietzsche, a democracia é um movimento
irreversível dentro da Europa que se apresenta em diferentes versões. A noção
de democracia abrange, deste modo, o aspecto sociológico, político, histórico e
cultural.
Neste seio democrático, é impossível não lidar com as massas para
efeitos de preenchimento de funções políticas. Os partidos políticos, assim,
tentam cooptar e convencer as massas, no intuito de obter os seus votos. O
preenchimento das funções políticas passa pela consulta às massas, e isso terá
fortes conseqüências. Na medida em que precisam dos votos, os partidos devem
aparentar capazes de trazer o bem-estar, cujo conteúdo é ditado pelo povo.
Logo, os políticos, para serem eleitos, devem absorver o que a massa define
sobre bem-estar, se identificando com os ideais do populacho. Em conseqüência
disto, o ter de lidar com as massas vai confundindo cada vez mais governantes e
os governados
O povo passa, então, a ser a fonte de legitimação do poder político
porque, para ser adorado, o líder deve se identificar com o povo, realizando o
que Nietzsche chama de pequena política. Mais propriamente, a cultura
encontra-se em perigo pois os valores são ditados pela massa, que é
essencialmente medíocre. Nietzsche vai mais além em sua crítica ao dizer que,
se é preciso preservar os valores mais elevados da cultura, deve-se sair da
política, já que esta se tornou uma coisa de medíocres. O próprio sufrágio
universal não é um direito, mas sim uma concessão, porque não foi conquistado
tal qual o movimento democrático narra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário